Em situações de aperto, como descrevem homens do campo, não há patriotismo que resista à invasão de quem cobre os altos custos de produção num País com défice anual superior a 9 milhões de toneladas de bens da cesta básica. Comerciantes congoleses fazem morada em importantes vales agrícolas, de onde levam bens diversos, com destaque para o “feijão de boa qualidade”, chegando a financiar antecipadamente.
O Governo, a olhar para a auto-suficiência alimentar como nunca se tinha visto, prepara 500 mil milhões Kz para o apoio que tem faltado aos nacionais, mas a experiência, vista à lupa por um agente comunitário, mostra que o dinheiro quase nunca chega ao sector familiar.
Se, outrora, até à entrada da década de 80, a exportação de produtos do vale agrícola do Cavaco era vista como motivo de orgulho nacional, hoje, em plena era do combate à fome, a saída dos bens para o exterior é associada a perigos no percurso da segurança alimentar em Angola.
Com o feijão como preferência, os produtos saem às toneladas, semanalmente, para a República Democrática do Congo (RDC), num dos maiores vales do País.
Indiferentes ao discurso relativo à luta pela segurança alimentar, centenas de camponeses estão a vender os produtos a comerciantes do país vizinho como uma medida alternativa ao que chamam de falta de incentivos da banca.
Uma das prioridades do Plano Nacional de Produção de Grãos (PLANAGRÃO), o feijão, tal como dissemos, justifica a “invasão” congolesa na província de Benguela, nos vales do Cavaco e do Dombe Grande, mas uma viagem para o Uíge mostra que outros produtos seguem para a RDC pelas mesmas razões.