Cerca de 28% das empresas angolanas “facilitam” ‘lavagem de dinheiro

O Contexto macroeconómico, ataques informáticos e branqueamento de capitais estão entre os factores que podem comprometer o sucesso das empresas nacionais a longo prazo.

Um estudo sobre Integridade em Angola, realizado pela consultora Ernst & Young (EY), conclui que 28% das organizações angolanas demonstram “falta de conhecimento sobre possíveis ocorrências de branqueamento de capitais em suas operações”, situação considerada “preocupante”, pelo facto de a “falta de informação poder ser um sinal de que os controlos e processos internos de detecção e prevenção de lavagem de dinheiro podem não estar adequadamente implementados ou eficazes”.

Especialistas responsáveis pelo estudo explicam que o branqueamento de capitais representa uma “séria ameaça para as organizações, envolvendo actividades ilícitas que procuram ocultar a origem ilegal de fundos através de transacções financeiras aparentemente legítimas”. Por este motivo, recomendam que as empresas “realizem uma análise minuciosa de seus procedimentos internos, adoptem medidas de conformidade rigorosa e invistam em formação para garantir que estejam preparadas para identificar e mitigar o risco de branqueamento de capitais, garantindo assim a integridade das suas operações e o cumprimento das leis e regulamentações aplicáveis”.

O mesmo cenário observa-se quanto às questões de fraude em que 26% das organizações inquiridas afirmaram não ter conhecimento se foram vítimas de situações de fraude relevantes nos últimos dois anos, embora os resultados do estudo sobre comportamentos de integridade apontam que apenas 49% das organizações participantes não foram vítimas de nenhuma situação de fraude neste período. Os especialistas explicam que estes resultados destacam a importância de se implementarem “medidas robustas” de prevenção, detecção e resposta à fraude, a fim de se minimizarem os riscos e proteger-se a integridade das organizações.

“Isso ressalta uma lacuna preocupante na detecção e monitoramento de possíveis actividades fraudulentas dentro dessas organizações. A falta de consciência sobre incidentes de fraude pode indicar a ausência de controles adequados e de um sistema eficaz de relatórios e acompanhamento.

Essa falta de informação pode expor as organizações a riscos significativos, incluindo danos financeiros, perda de reputação e impactos negativos nas operações comerciais. É crucial que as empresas invistam em sistemas robustos de monitorização, relatórios e análises de fraude para identificar e responder prontamente a possíveis incidentes, garantindo assim a protecção dos seus activos e a manutenção de um ambiente de integridade”, observam.

Apesar desta quota de organizações que demonstra despreparação, sobretudo quanto às ameaças de lavagem de dinheiro, o estudo aponta que a grande maioria das empresas participantes (cerca de 64%) têm mecanismos de prevenção e afirma não ter sido vítima de nenhuma situação relevante de branqueamento de capitais nos últimos dois anos.

Contudo, o maior risco para o sucesso a longo prazo das empresas nacionais, segundo identificação dos especialistas, é o ambiente macroeconómico, os ciberataques e ransomware, além de branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. O risco geopolítico, as sanções, os subornos e corrupção preenchem o leque das ameaças. “É essencial que as organizações estejam conscientes destes riscos e adoptem medidas adequadas de prevenção, detecção e combate à corrupção para garantir a conformidade com leis e regulamentos e proteger sua reputação e sustentabilidade a longo prazo.”

BAIXO ESCALÃO É MAIS SUSCEPTÍVEL, CHEFES TOLERAM
Funcionários do baixo escalão são os mais propensos a violarem as leis, códigos de conduta e regulamentações do sector em que estão inseridos e, consequentemente, beliscar a integridade organizacional, do que os funcionários do topo (gestores). De acordo com o estudo, 90% dos participantes inquiridos demonstram-se “bastante confiantes” com a conduta honesta das pessoas em cargos de gestão e só 10% diz sentir-se “pouco confiante.”

A maioria dos participantes (77%) discorda da ideia de que existam gestores dispostos a sacrificar a integridade em troca de ganhos financeiros de curto prazo, sendo que apenas 23 % concordam com essa possibilidade.

Observa-se também que é possível tolerar comportamentos antiéticos nas organizações angolanas, especialmente quando as pessoas envolvidas ocupam cargos de alta hierarquia, como executivos seniores ou profissionais de alto desempenho, apesar de os padrões de integridade melhorarem, na visão de 54% participantes do estudo, contra os 41% que acreditam que não houve alterações.

Os responsáveis pelo estudo alertam, por isso, ser “importante” a implementação de “medidas efectivas” para a promoção da “responsabilização e da transparência”, independentemente do valor e estatuto dos funcionários.

“É importante continuar a fortalecer os sistemas de denúncias e garantir a confidencialidade e a imparcialidade no tratamento dessas denúncias, uma vez que, no nosso estudo, se observa que um terço dos participantes considera que os funcionários não podem denunciar más condutas no trabalho sem temerem consequências negativas para si mesmos. Isso indica uma percepção negativa em relação à protecção e apoio aos denunciantes dentro das organizações em Angola”, observa o estudo.

Publicado no fim da semana passado, o estudo contou com uma amostra de 62 participantes, 41 dos quais homens e 21 mulheres, com idade média de 43 anos.

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