O procurador-geral da República (PGR) de Angola diz que a justiça angolana não recebeu qualquer carta rogatória da justiça suíça relativa ao processo que envolve a gigante das matérias-primas Trafigura e a petrolífera estatal Sonangol.
Hélder Pitta Grós, que falava à imprensa à margem do acto de celebração do Dia Internacional contra a Corrupção, que se assinala no sábado, sublinhando que Angola tem estado a trabalhar com a justiça suíça em outros processos e que os dois países têm assinado um protocolo de cooperação.
“Temos sempre bons canais de cooperação entre os dois países”, frisou Hélder Pitta Grós, acrescentando que, caso recebam uma carta rogatória da Suíça a justiça angolana vai cooperar.
“A nossa obrigação é fazermos as investigações necessárias que eles solicitarem, porque a carta rogatória por norma é concreta, específica, diz aquilo que pretendem, e assim que eles nos enviarem vamos ver o que é que eles pretendem, vamos investigar e vamos enviar os resultados que conseguirmos. É nossa obrigação e tem que haver uma cooperação nos dois sentidos, que também eles têm tido esse cuidado e nos têm, de facto, ajudado bastante”, referiu.
Questionado sobre se este processo pode vir a dar novo impulso a um outro que envolve o ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente, o PGR angolano disse que prefere esperar pela carta rogatória para ver.
Em causa está um processo que envolve o grupo Trafigura, empresa presente em Angola e parceira da Mota-Engil num consórcio para a concessão do Corredor do Lobito, com vista à exploração e manutenção do transporte ferroviário de mercadorias entre Lobito e Luau durante 30 anos, acusado pela justiça suíça de ter subornado funcionários públicos em Angola.
O director executivo da Trafigura, um dos maiores `players` mundiais no comércio de matérias-primas, nega as acusações das autoridades suíças, que pretendem levar a tribunal um antigo político angolano e dois ex-dirigentes da multinacional.
De acordo com a acusação da Procuradoria-Geral suíça, “um antigo responsável angolano é acusado de ter aceitado, entre abril de 2009 e outubro de 2011, subornos de mais de 4,3 milhões de euros e 604 mil dólares, do grupo Trafigura, relacionado com as suas actividades na indústria do petróleo em Angola”.
O processo envolve também o ex-director executivo da Trafigura Mike Wainwright e um antigo consultor do Grupo DT (uma `joint venture` na qual a empresa suíça detinha uma participação).
Citado num comunicado, o presidente executivo e CEO da Trafigura, Jeremy Weir, lamentou os “incidentes” que “violaram o código de conduta da Trafigura” e sublinha os esforços feitos para “incutir uma cultura de conduta responsável” na empresa.
Na acusação, as autoridades judiciais suíças dizem que o esquema de corrupção que envolve a Trafigura em Angola poderá ter beneficiado a companhia suíça em 143,7 milhões de dólares, por ter ganhado indevidamente contratos de frete e abastecimento de navios entre Junho de 2009 e Julho de 2010.”