FMI diz que BNA deve apertar ainda mais a política monetária

O Banco Nacional de Angola (BNA) deve apertar ainda mais a política monetária este ano na sequência da forte desvalorização cambial verificada no I semestre que, juntamente com a subida dos preços da gasolina, fez acelerar a inflação, defende o Fundo Monetário Internacional (FMI) num relatório sobre Angola.

“Embora se preveja que o impacto inflacionário da supressão dos subsídios aos combustíveis seja mais forte em 2024, é necessário adoptar este ano uma política monetária mais restritiva, tendo em conta a forte depreciação da taxa de câmbio registada recentemente, que se repercute fortemente na inflação”, refere o relatório sobre a primeira avaliação pós-financiamento, publicado este mês, que invalida a anterior recomendação publicada em Março no relatório sobre as consultas ao abrigo do artigo IV, de “esperar para ver” o comportamento da economia do País antes de se tomar medidas ao nível da política monetária.

Mas a sugestão mais recente da instituição multilateral não foi acolhida pelo banco central nas últimas três reuniões (19 de Maio, 18 de Julho e 15 de Setembro) do Comité de Política Monetária (CPM) do BNA, mesmo depois de, desde 11 de Maio, a taxa de câmbio média no BNA ter passado de 507,7 Kz por dólar até aos 822,4 Kz a 28 de Junho, equivalente a uma desvalorização de 38% em apenas um mês e meio. Desde essa desvalorização tão forte, o CPM manteve sempre a denominada Taxa BNA nos 17%. Aliás, nessas três reuniões apenas procedeu a uma mexida, quando a 14 de Julho aumentou a taxa de juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez de 17,0% para 17,5% em Julho. Na prática, este ligeiro aperto, conjugado com outras medidas e recados do banco central, tinha como objectivo desmotivar os bancos a procurarem liquidez imediata por via de empréstimos do BNA, empurrando-os para o interbancário.

Na última reunião do Comité Político Monetário (CPM) do BNA, realizada a 15 de Setembro, o governador Manuel Tiago Dias justificou o facto de manter inalteradas as taxas directoras dizendo que o aumento dos preços verificados no País em Agosto, medidos pelo INE – inflação homóloga de 13,54% e mensal de 2,04% – se deveu a “factores sazonais e da insuficiência de oferta de bens e serviços”.

Ora, conforme o Expansão já noticiou por diversas vezes, o problema da inflação em Angola tem resultado, sobretudo, de um desajuste entre a oferta (menor) e a procura (maior), o que faz cumprir a “velha” máxima da lei de mercado, em que quando a procura é superior à oferta os preços sobem. Este ano, juntaram-se “em força” outros factores que influenciam a subida dos preços, como a desvalorização cambial ou a recente subida dos preços da gasolina. Pelo que para os especialistas não é possível que a inflação medida pelo INE seja tão baixa face à disparidade da subida dos preços dos bens de consumo, já que há casos de os preços terem duplicado e até triplicado entre Maio e os meses seguintes, e por essa razão o BNA deveria ter sido mais conservador, apertando mais a política monetária. Até porque é expectável que a inflação não pare de acelerar. Aliás, o BNA revelou em Julho ter reajustado a sua previsão de inflação para 2023, passando da janela inicial de entre 9% e 11% para uma janela entre os 12% e os 14%. Essa previsão deverá ser furada, já que só em Agosto a inflação homóloga cresceu para 13,54%.

Mais pessimista está o FMI, que aponta agora a uma inflação anual de 18,8% no final de 2023, contra a previsão de 12,3% inscrita no relatório de Março, para voltar a acelerar novamente em 2024 para 25,6%. O fundo justifica esse crescimento com o “aumento dos preços da energia relacionado com a reforma dos subsídios aos combustíveis”, que arrancou este ano e que está previsto ser intensificado em 2024. Com esse corte aos subsídios aos combustíveis, acordada com FMI e Banco Mundial, o objectivo é cortar cerca de 1 biliões Kz na despesa, passando de quase 2,5 biliões Kz em subsídios em 2023 para 1,5 biliões Kz em 2024. Mas se o corte aos subsídios tem um lado positivo, que é permitir poupar muito dinheiro ao Executivo, por outro irá agravar ainda mais as dificuldades das famílias, que ano após ano têm perdido poder de compra já que a inflação é uma espécie de imposto escondido que “come” os rendimentos.

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