Marta descobriu que estava prestes a casar-se com o marido de Mafuta, a sua irmã mais velha. Sim, o marido da irmã. Sim, a irmã que julgava morta há mais de três décadas.
As duas tinham sido rasgadas pela vida. Marta fincara raízes em Angola, Mafuta emigrara para Portugal. Mafuta, casada há vinte anos e mãe de quatro filhos, vivia entre o quotidiano europeu e a saudade de uma irmã perdida. O seu esposo, português e comerciante, era homem de viagens frequentes entre Luanda e Lisboa. Nessas idas e vindas, encontrou a Marta. E encontrou nela mais do que deveria. Encontrou abrigo, encontrou desejo e fez com ela dois filhos.
Com o tempo, a prosperidade sorriu-lhe mais em Angola. E, como qualquer comerciante que segue a direcção do lucro, fixou-se onde o terreno lhe parecia mais fértil. Apaixonado – ou convencido de que estava – pediu Marta em casamento no início de 2019. A boda ficou marcada para 17 de agosto.
Duas semanas antes, Mafuta recebeu uma notícia que lhe devolveu a irmã à vida, por assim dizer. Marta estava viva e prestes a casar-se. Movida por um impulso antigo – talvez amor, talvez intuição – decidiu apanhar o primeiro vôo para Angola. Queria reencontrar a irmã. E queria, sobretudo, pedir explicações ao marido, desaparecido há dois anos.
O destino, sempre irónico, fez com que Mafuta chegasse precisamente no dia do casamento. Atravessou as portas da igreja com o coração apertado – e encontrou o impossível. O marido no altar, a casar-se com a sua própria irmã. Por instantes, a realidade pareceu uma peça teatral mal ensaiada. Mafuta sentiu-se suspensa entre dois mundos – o da mentira conveniente e o da verdade devastadora. Mas a verdade venceu.
Subiu ao altar, apresentou-se a Marta e deu a conhecer a todos a dimensão daquela tragédia doméstica. O português, literalmente assustado, tentou negar o óbvio, mas as imagens e os vídeos que Mafuta exibiu calaram qualquer fuga possível. A festa desfez-se em murmúrios, lágrimas e incredulidade.
Enquanto alguns convidados se questionavam, outros – mais dados ao drama – esfregavam as mãos com a sensação de assistir a um enredo digno de novela. As duas irmãs, porém, abraçaram-se como quem recupera um pedaço de si que julgava morto. Choraram não só a dor do presente, mas também o peso dos anos apagados.
Um mês depois, completamente só, caído entre duas famílias que já não podia reclamar, o comerciante pôs fim à própria v*ida. E, como se a tragédia tivesse um último capítulo reservado, Marta tombou durante o funeral, vítima de um ataque cardíaco.
Hoje, os familiares apontam o dedo a Mafuta, acusando-a de ter revelado a verdade no pior momento possível. Fragilizada, cercada por culpas que não lhe pertencem, ela murmura que também pensa em su*icidar-se.
Por: Nguindo António, o Pintor de Letras

Awesome! Its genuinely remarkable post, I have got much clear idea regarding from this post